Religiosos acolhem sírios refugiados em Salvador

(A Tarde, 13/09/2015) “Onde você está, papai? Quando você vem? Não queremos morrer aqui. Volta logo!”. A voz do outro lado da linha telefônica suplica em árabe. É do filho mais novo do funcionário público sírio Hazen Alyounes, 42.

Cerca de 13 mil quilômetros os separam. Hazen está em Salvador, a mulher dele e três filhos, na Turquia, país entre a Europa e a Ásia.
Hazen falava do Centro Cultural Islâmico da Bahia, em Nazaré. Ele e mais dois sírios – Rami Saltouf e Mehy Eddin Yousef – estão abrigados no local há cerca de cinco meses. Outros nove já passaram pela instituição, somente este ano.

Como outros quatro milhões de sírios, eles foram obrigados a deixar o país de origem por conta da violenta guerra civil que começou com grandes protestos populares em 26 de janeiro de 2011 e progrediu para uma revolta armada, que permanece até hoje.

Desde então, mais de 250 mil pessoas já morreram e milhares ficaram feridas, segundo dados do Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).

Justiça

Hazen, Rami e Mehy fugiram em busca de sobrevivência. Como muitos outros sírios, escolheram o Brasil como rota de fuga para países europeus na esperança de ter uma nova vida.

Só que acabaram detidos no dia 25 de março, ao tentar embarcar com passaportes falsos para Madri, na Espanha. Atualmente, os três aguardam decisão judicial em liberdade provisória e não podem sair do país.

Há pessoas que atuam oferecendo pacotes de até 14 mil euros para obtenção de passaportes falsos e passagens aéreas. Os imigrantes são mandados para o Brasil e, aqui, recepcionados por grupos de criminosos, conhecidos como “mulas”.

Após alguns dias em solo brasileiro, são embarcados para a Europa por diferentes estados. A equipe de reportagem buscou dados sobre o número de refugiados que tentam sair do Brasil por meio desse esquema ilegal, mas não obteve retorno do Ministério da Justiça até o fechamento desta edição.

“Sei que errei, mas estava lutando pela vida. Quero chegar à Turquia para ficar com a minha família”, desabafa Hazen, que afirma ter desistido de buscar refúgio na Europa e decidiu não solicitar refúgio ao Brasil, temendo ter dificuldades para sair do país.

Por meio da assessoria de imprensa, a Polícia Federal na Bahia informou que o inquérito foi concluído no dia 8 de abril. Os reús foram liberados para responder em liberdade porque não havia elementos que exigissem a prisão preventiva.

Ainda de acordo com a PF, faltam algumas diligências relacionadas à origem e identificação dos sírios. Em seguida, o caso será encaminhado ao Ministério Público Federal (MPF), que decidirá se arquivará o processo ou se eles responderão criminalmente. Não há previsão para o julgamento.

De acordo com a chefe da Delegacia de Polícia de Imigração na Bahia, Indira Croshere, nesses casos a Justiça considera o contexto social e o estado de guerra: “Eles poderão ser réus, mas trata-se de uma questão humanitária. Normalmente, quando fica provado que o ato foi cometido por uma questão de sobrevivência e busca de melhores condições de vida para as famílias, eles são absolvidos e têm os passaportes liberados”.

Segundo o coordenador do Centro Islâmico da Bahia, Sheikh Abdul Hameed Ahmad, os sírios estão deprimidos. “Eles não saem do centro para nada, não se alimentam direito e choram pelos cantos”, relata.

Para Hameed, eles não podem ser tratados como criminosos: “Refugiados não são marginais. Eles estão fugindo de uma guerra e lutando por sobrevivência. Precisam do nosso apoio”.
Rede de assistência no Brasil

Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR)
Tem a função de proteger refugiados e promover soluções duradouras.
61 3044 5744
www.acnur.org

Comitê Nacional de Refugiados (Conare) Órgão vinculado ao Ministério da Justiça que reúne segmentos representativos da área governamental, Sociedade Civil e ONU.
61 2025 9225
www.mj.gov.br/conare

Instituto Migrações e Direitos Humanos Brasília-DF
61 3340-2689
www.migrante.org.br

Secretaria Especial de Direitos Humanos – SEDH Brasília-DF
61 2025-3536 www.sedh.gov.br direitoshumanos@sedh.org.br

Centro de Defesa dos Direitos Humanos
11 2358-9606 cddh.guarulhos@gmail.com
Fabiana Mascarenhas

Acesse no site de origem:  Religiosos acolhem sírios refugiados em Salvador (A Tarde, 13/09/2015)