Itália resgata mais um navio abandonado com centenas de refugiados

(Terra, 02/01/2015) Em duas semanas, é o terceiro incidente do tipo na costa italiana. Traficantes parecem ter mudado estratégia de barcos pequenos para grandes embarcações de carga, que largam em alto-mar na esperança que cheguem à Europa.

Mais um navio transportando centenas imigrantes foi abandonado pela tripulação no Mediterrâneo, diante da costa italiana, disse a Guarda Costeira da Itália nesta sexta-feira (02/01). Trata-se do segundo incidente do tipo em três dias e o terceiro em duas semanas.

Seis guardas costeiros conseguiram controlar o navio Ezadeen, com uma bandeira de Serra Leoa, após pousarem de helicóptero sobre o deque. Sem combustível, o navio de carga estava à deriva a cerca de 65 quilômetros de Crotono, no sul da Itália, com até 450 pessoas a bordo. Os marinheiros enfrentam agora mau tempo enquanto tentam transportar a embarcação até um porto italiano.

A nacionalidade dos imigrantes ainda é desconhecida, segundo um porta-voz da Guarda Costeira, que afirmou haver mulheres e crianças a bordo. Quando se aproximaram do navio, uma mulher imigrante teria dito: “Estamos sozinhos e não temos ninguém para nos ajudar”.

“Sabemos que o navio partiu de um porto turco e foi abandonado pela tripulação”, disse o porta-voz da guarda costeira Filippo Marini à emissora SkyTG24. Segundo a Marinha, o navio deveria ir de Famagusta, no norte de Chipre, controlado pela Turquia, até o porto francês de Sète.

Já um site de transporte de carga, disse que o navio de Serra Leoa havia começado sua viagem em Tartus, na Síria. Milhares dos refugiados que aportaram na Itália neste ano partiram da cidade síria abalada pela guerra, mas a maioria chegou pelo Norte da África.

Nesta quarta-feira, o navio de carga Blue Sky M com cerca de 800 imigrantes a bordo, a maioria refugiados sírios, chegou à Itália após ter aparentemente sido abandonado pela tripulação. Há duas semanas, a Marinha italiana prestou assistência a outra embarcação abandonada, com 850 imigrantes, desembarcando-os num porto na Sicília.

Mudança de estratégia

A guerra civil na Síria e a anarquia na Líbia fez aumentar o número de pessoas que cruzaram o Mediterrâneo em 2014. Muitos pagaram até 2 mil dólares para traficantes pela viagem. A Agência da ONU para Refugiados estima que 160 mil imigrantes tenham chegado à Itália pelo mar de janeiro a novembro do ano passado, e outros 40 mil à Grécia. Milhares morreram durante a jornada.

Segundo Carlota Sami, porta-voz da agência da ONU, muito navios de carga foram usados nos últimos dois meses, carregando sobretudo refugiados sírios, mas também de outras origens, incluindo muitos fugindo do Iraque.

Os traficantes parecem ter decidido que o melhor jeito de fazer sua carga humana chegar à Europa é abandonando-a em navios. Eles ativam o piloto automático em alto-mar e fogem em barcos menores, afirma Sami.

Os traficantes mudaram de estratégia, principalmente porque a Itália acabou com sua missão marítima de busca e resgate Mare Nostrum, o que faz a viagem num pequeno barco mais arriscada. A Itália encerrou a missão em parte por causa dos gastos envolvidos: 137 milhões de dólares em um ano. Grupos de direitos humanos alertaram que o fim da Mare Nostrum colocaria mais vidas em risco.

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