Os países que mais recebem refugiados sírios
(BBC Brasil, 12/09/2015) As imagens comovem pelo tamanho da multidão: milhares de pessoas que se agrupam em caravanas humanas para tentar chegar aos países da União Europeia. Elas fogem do horror da guerra civil na Síria, iniciada em 2011.
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Mas apesar do que foi apresentado como uma crise migratória sem precedentes nas fronteiras da Europa, trata-se de pouco em comparação com o que vivem os países vizinhos da Síria – que receberam a maior parte dos quase 4,6 milhões de refugiados que escaparam da Síria.
Na que foi considerada pela ONU como “a maior crise humanitária” desde a Segunda Guerra Mundial, a maioria dos refugiados se deslocou para países vizinhos como Turquia, Líbano e Jordânia para escapar da guerra que envolve o grupo do presidente Bashar Assad, rebeldes aliados e a ameaça do grupo autodenominado “Estado Islâmico”.
De acordo com os dados revelados pela Comissão Europeia e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), chegaram à Turquia 1.9 milhão de sírios nos últimos quatro anos. No Líbano foram 1,1 milhão, e na Jordânia, 629,6 mil.
Enquanto a União Europeia discute e analisa onde colocar os 120 mil beneficiários de solicitações de refúgio que planeja receber nos próximos dois anos, os três países mencionados acima já receberam em conjunto 3,6 milhões de sírios – 30 vezes a cifra europeia.
Só para se ter ideia: a Alemanha, a potência europeia, afirmou que receberia 800 mil refugiados em seu território. Enquanto isso a Turquia, país que aspira entrar no grupo europeu, já aceitou o triplo.
“A desorganização e o sistema de asilo extremamente disfuncional da Europa contribuíram para agravar a crise dos refugiados”, afirmou nesta semana à imprensa o representante da Acnur, Antonio Guterres.
“Estamos falando de 4 mil a 5 mil pessoas por dia em um bloco que tem 508 milhões de habitantes”. Até o momento a União Europeia recebeu 281,4 mil solicitações de refúgio por parte de sírios.
O Brasil concedeu status de refugiados a mais de dois mil sírios desde 2011 até agosto deste ano, segundo dados do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados). O número é maior do que o de alguns dos principais portos de destino na Europa e do que quase todos os países do continente americano, exceto pelo Canadá, que recebeu aproximadamente 2.500 no mesmo período, de acordo com o Ministro da Imigração Chris Alexander.
Em janeiro, o país anunciou planos de receber cerca de 10 mil refugiados sírios nos próximos três anos, mas foi criticado por priorizar minorias étnicas e religiosas perseguidas, como cristãos.
Na quinta-feira, o presidente americano Barack Obama também anunciou que os Estados Unidos devem receber “no mínimo” 10 mil refugiados sírios no próximo ano, de acordo com um porta-voz da Casa Branca. Até o momento, o país havia concedido refúgio a cerca de 1.200, desde 2011.
Gastos em solidariedade
A imagem da crise que emocionou o mundo – a foto do corpo de Alan Kurdi, um menino de 3 anos – ocorreu nas praias do país que mais abriga refugiados sírios em seu território: a Turquia.
A situação lá é crítica.
De acordo com a Acnur, o governo turco construiu 25 acampamentos de refugiados – onde atualmente estão alojadas 275 mil pessoas.
O restante dos sírios se estabeleceu em dez cidades do país.
O ex-premiê turco Ahmet Davutoglu afirmou que nos últimos anos seu país gastou cerca de US$ 6 bilhões para atender a emergência.
“Foi um gasto que assumimos quase na totalidade. A União Europeia só investiu US$ 165 milhões. Não podemos enfrentar sozinhos esta crise”, escreveu Davutoglu ao jornal The Guardian.
Segundo autoridades turcas, a maioria dos refugiados está satisfeita com o suporte nos acampamentos e ao menos 90% utilizaram serviços de saúde locais.
Líbano e Jordânia
Uma das situações mais complexas é vivida pelo Líbano – país em que um em cada cinco habitantes é sírio.
Desde o início do conflito, 1,1 milhão sírios buscaram refúgio no país.
“Na Síria nos acostumamos a viver como reis mas aqui somos como mendigos. Pedimos ajuda às pessoas e nos sentimos envergonhados”, disse Hanaa, uma síria que chegou a Beirute após escapar da guerra na cidade de Yarmuk.
Na Jordânia a situação é similar. No acampamento de Zaatari, residem cerca de 100 mil das 600 mil pessoas que chegaram nos últimos anos. O governo gasta US$ 50 milhões por ano para mantê-lo.
Deslocamento interno
De acordo com um relatório da Acnur, cerca de 7,6 milhões de pessoas tiveram que se deslocar dentro da Síria para tentar escapar da violência.
“Damasco recebeu nos últimos anos quase 2 milhões de pessoas, o que duplicou sua capacidade habitacional em um dos últimos bastiões de Assad”, afirmou o editor de Oriente Médio da BBC, Jeremy Bowen.
Segundo ele, o que para os analistas do Ocidente é uma crise que está emergindo, para os países vizinhos essa é uma preocupação que existe desde o início da guerra, há mais de quatro anos.
“A diferença agora é que os refugiados, em grande número, estão tratando de chegar aos países mais ricos da Europa”, disse ele.
“Mas a razão fundamental para que eles continuem fugindo está na Síria, em um conflito que não tem um final à vista”.
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