Rede Borboletas encantam Brasília e são homenageadas na reunião Cartagena+30
(ACNUR, 09/12/2014) A “Rede Borboletas com Novas Asas – Construindo o Futuro”, organização comunitária colombiana vencedora do Prêmio Nansen para Refugiados 2014, foi homenageada na última terça-feira em Brasília durante a reunião ministerial que concluiu o processo de celebração do 30º aniversário da Declaração de Cartagena sobre os Refugiados – também conhecido como Cartagena+30.
“Estamos aqui para nos unirmos com outras ‘comadres’ do Brasil e criar alianças que nos permitam defender os direitos das mulheres refugiadas, deslocadas internas e apátridas”, disse Luz Santiesteban, uma das integrantes da Rede Borboletas, ao receber a homenagem na reunião – uma estátua de madeira e metal banhado a ouro, feita pelo refugiado Adriano Loaiza, que vive no Brasil.
Nesta visita ao Brasil, a Rede Borboletas teve ainda a oportunidade de encontrar outras seis organizações e grupos da sociedade civil que atuam em Brasília e outras cidades do Distrito Federal no enfrentamento e prevenção da violência contra mulheres – a mesma temática de trabalho da organização colombiana.
Este encontro foi organizado no último domingo pelos grupos “Coletivo da Cidade” e “Irmandade Pretas Candangas”, para promover o intercambio de experiências entre representantes das “Borboletas” e mulheres e jovens atendidas por estas instituições brasilenses.
Mais de 120 mulheres de diferentes pontos do Distrito Federal estiveram com as “Borboletas” Luz Santiesteban e Sara Candelo, que explicaram com muito entusiasmo o que estão fazendo desde 2010 na região de Buenaventura (na costa pacífica colombiana) para salvar mulheres de áreas rurais e urbanas que são vítimas de vários tipos de violência.
“Somos mulheres de ação, e não de escritório. Somos território, somos terra e ajudamos as mulheres e suas famílias com a alma e o coração”, disseram as “Borboletas”, com a ênfase características das mulheres afrodescendentes da Colômbia. As mulheres brasilienses ficaram emocionadas, pois várias sofrem violência de gênero e se identificaram com o discurso da organização colombiana.
Embora morem a mais de 1.700 quilômetros de distância umas das outras, as mulheres colombianas e brasileiras vivenciam realidades parecidas. Muitas das que vivem na Cidade Estrutural, em Brasília, enfrentam situações de pobreza, são chefes de família, residem em habitações precárias, não têm emprego foram e sofrem violência sexual e/ou doméstica.
“O testemunho das ‘Borboletas’ nos serve de inspiração. Não sabemos como pedir ajuda e muitas mulheres violentadas têm medo de ser identificadas e discriminadas”, disse uma moradora da Cidade Estrutural que participou do encontro com as “Borboletas”.
Outra jovem mulher contou que, por causa de sua experiência pessoal, não teve outra alternativa a não ser fugir. “Fui agredida pelo meu ex-companheiro. Fiz 14 denúncias, mas não tive qualquer benefício ou proteção”, disse ela, mostrando descrédito em relação às autoridades e à legislação brasileira que criminaliza a violência sexual e de gênero – a Lei Maria da Penha. Tal desconfiança também reflete a realidade das mulheres de Buenaventura, na Colômbia.
O Coletivo da Cidade, em Brasília, atende diariamente cerca de 200 crianças e adolescentes antes ou depois do período escolar, oferecendo atividades artísticas e educativas como meio de transformação social. Além disso, é um importante espaço de convivência comunitária e capacitação profissional para outros habitantes da comunidade – inclusive mulheres vítimas de violência.
As integrantes do Coletivo levaram as “Borboletas” à feira de rua da comunidade que acontece todos os domingos, onde Luz e Sara tiveram a oportunidade de falar com mulheres beneficiárias de programas de microcrédito criado pelo “Banco Comunitário da Estrutural”, um projeto social destinado aos habitantes que diariamente usam uma moeda alternativa para dinamizar o comércio local.
O encontro na Cidade Estrutural terminou com apresentações artísticas com música, teatro, poesia e grafite, exemplificando como essas atividades culturais são usadas para enfrentar a violência doméstica e sexual. Sentindo-se à vontade na Cidade Estrutural, Luz e Sara não resistiram ao ritmo das dançarinas e se juntaram a elas para dançar um animado hip-hop.
E nesta quinta-feira, último dia de missão em Brasília, as “Mariposas” visitaram o serviço de recepção de denúncias de violência de gênero administrado pela Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM) da Presidência da República, onde conheceram o serviço e trocaram experiências e impressões com as funcionárias do serviço de atenção.
As “Mariposas” explicaram às autoridades da SPM o programa de acompanhamento de denúncias em vigor na Colômbia, desenvolvido pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e pelo Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA). Elas também tiveram a oportunidade de explicar como o sistema de “comadrio” facilita o acesso às mulheres vítimas de violência, o acompanhamento dos casos e o encontro de soluções para estas mulheres.
Por Francesca Fontanini, de Brasília (DF).
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