Refugiados sírios tentam recomeçar a vida em Belo Horizonte
(G1/Minas Gerais, 09/09/2015) Mesmo com diplomas universitários, há poucas oportunidades no mercado. Mais de 70 sírios chegaram à capital mineira este ano fugindo da guerra
“Eu rezo pela Virgem Maria. Para ela nos ajudar e ajudar a Síria”, disse Nadaan Zakour, de 24 anos, que fugiu da guerra com o marido e chegou a Belo Horizonte há quatro meses. Ela era professora de música em Homs, a terceira maior cidade síria, e berço da revolta contra o governo que começou em 2011.
“Fico feliz em poder cantar aqui no Brasil, nem que seja na missa”, disse Nadaan, que frequenta a Igreja Sagrado Coração de Jesus, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, conhecida por reunir refugiados.
O marido de Nadaan, Allab Kassab, era advogado na Síria. “Hoje eu sou segurança na Igreja São José, mas estou feliz aqui. Os brasileiros nos receberam de braços abertos”, disse ele, que arrisca poucas palavras em português.
O casal está entre os 78 refugiados sírios que chegaram a Belo Horizonte neste ano, segundo o consulado do país na capital mineira. Além da guerra entre rebeldes e as forças do presidente Bashar al-Assad, a população sofre com o avanço dos radicais do Estado Islâmico. A cidade vem recebendo refugiados desde 2012, graças ao intermédio do padre George Rateb Massis, que também é sírio e vive no Brasil há 15 anos.
“Eles chegam pelo aeroporto, com visto brasileiro. Graças a Deus o governo brasileiro não está negando isso. A possibilidade do mercado de trabalho é muito pouca. São oportunidades simples, apesar de que todos têm curso superior, são médicos e engenheiros”, disse o padre.
Flayeh Flayeh, de 21 anos, estudante de turismo na Síria, teve que aceitar um emprego simples em um restaurante. “É muito trabalho e pouco retorno financeiro. Eu falo árabe, inglês e estou aprendendo português. Espero conseguir uma melhor colocação”, disse o jovem, no Brasil há dez meses, e que fugiu depois que o irmão, integrante do exército sírio, morreu em combate.
“Minha mãe disse que não queria perdeu mais um filho e por isso me incentivou a vir para cá. Tenho amigos que já estavam aqui e por isso vim, mas gostaria de encontrar meus parentes que foram para os Estados Unidos”, contou Flayed que também temia ser sequestrado pelo Estado Islâmico por ter idade para entrar na guerra.
O professor de literatura árabe, que prefere ser chamado apenas de Hussan, deixou a esposa para trás, na tentativa de se estabelecer em Belo Horizonte e trazê-la para começar uma vida nova. Mas desde que chegou, há cinco meses, ainda não encontrou emprego. “Se eu não conseguir trabalho, vou ter que voltar para a Síria. Minha mulher está me esperando. Mas a situação é muito ruim. Há medo em toda a parte.”, lamentou.
A Arquidiocese de Belo Horizonte mantém há três anos a campanha “Juntos pela Síria”, que procura angariar fundos para ajudar os refugiados na capital. Para outras informações, clique aqui.
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