Refugiados sírios tentam se adaptar à nova vida em Florianópolis, SC
(G1/Santa Catarina, 11/09/2015) Dezenas de pessoas ganham apoio de pastorais que atendem imigrantes. Apesar disso, ainda não uma há política governamental de atenção a eles
Enquanto muitos refugiados sírios se arriscam na travessia do Mar Mediterrâneo para fugir da guerra e buscar melhores condições de vida, alguns escolhem o Brasil para recomeçar. Dezenas deles passaram a se deslocar para Santa Catarina, onde têm recebido apoio de grupos religiosos, já que não há uma política pública para tratar desses imigrantes específicos.
São pessoas como Maysun, que perdeu tudo na Síria e foi parar em Florianópolis. Ela viu a capital catarinense como melhor alternativa para recomeçar, mas tem enfrentado dificuldades para se adaptar. Há seis meses na cidade, ainda não fala português e vive longe do marido, que foi para os Estados Unidos em busca de oportunidades.
Em uma foto pelo celular, ela mostra as condições do bairro onde vivia, em Damasco, capital síria, que ficou destruído pelos bombardeios. Em meio a lágrimas, ela expressa a saudade e a incerteza sobre quando reencontrará o marido (veja no vídeo).
“As notícias não são aquelas notícias boas, agradáveis. As pessoas estão vivendo sob boicote, bombardeio, escassez de alimentos e suprimentos”, diz o cunhado de Maysun, Nabil. A família já perdeu vários parentes na guerra.
Apoio assistencial
Além deles, outros 90 sírios já procuraram o Centro Islâmico de Florianópolis para pedir ajuda nos últimos dois anos. “É uma referência pra esses sírios refugiados, porque é o que entende a cultura e a religião deles. Eles não falam português e procuram alguém que consiga entendê-los, ajudá-los, prestar assistência”, afirma o sheik Amim Al Karam. Ele afirma que o governo brasileiro concedeu o visto “mas não concedeu a assitência”.
Imigrantes e refugiados de todo o mundo também são recebidos na Paróquia Santa Terezinha, na Prainha, desde 1996. A pastoral do migrante passou a ter mais pedidos de apoio há aproximadamente dois anos. Desde então, 564 pessoas já foram cadastradas e cerca de 2 mil atendimentos foram realizados.
“Até o ano passado a gente recebia em média umas cinco pessoas por dia. Hoje esse é o nosso mínimo. A gente chega a receber 30 pessoas diariamente, de mais de 32 nacionalidades. É um desafio diário”, afirma a antropóloga Tamajara Silva.
Sem políticas públicas
A assistência e o suporte em busca de moradia, documentação e o recomeço da vida em Santa Catarina são feitas principalmente por meio de igrejas.
“Hoje nós não temos nenhum convênio direto com a pastoral até porque o maior fluxo que o municipio recebeu de forma institucional foi esse vindo agora, com os imigrantes haitianos”, explica o secretário municipal de Assistência Social Dejair de Oliveira Júnio.
Segundo ele, algumas conversas com o governo do estado e a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) já foram realizadas, mas ainda não há nada concreto.
“Nossa grande dificuldade hoje é que nós vivemos no Brasil uma ausência de política sobre a temática de imigrante. Nós temos, no meu entendimento, a postura correta de acolhimento humanitário, de ser generosos nesse recebimento. Mas a partir daí nós não temos definido o que fazer e como fazer”, afirma secretária estadual de Assistência Social, Angela Albino.
De acordo com a secretária, a expectativa é de que, em um mês e meio, alguns projetos focados neste tema e que já tramitam Alesc estejam concluídos. “A partir daí nós temos todas as condições de capitanear essa necessária política estadual de acolhimento a esse fluxo migratório”, conclui.
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