“Futebol das Nações” é lançado no Maracanã com refugiados em dia de estrelas
(ACNUR, 27/08/2015) Os refugiados que vivem no Rio de Janeiro têm agora um novo espaço de acolhida. O Estádio do Maracanã abriu suas portas a pessoas que foram vítimas de guerras e perseguições em seus países e passa a oferecer oficinas semanais que utilizam o futebol como instrumento de transformação social.
No palco da final da Copa do Mundo de 2014, os refugiados não são torcedores ou meros visitantes, mas jogadores, protagonistas do “Futebol das Nações”. O projeto é desenvolvido em parceria com a Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro com o objetivo de promover a integração dessas pessoas no Brasil e proporcionar um espaço de debate a respeito de temas como preconceito, acesso ao mercado de trabalho, igualdade de gênero e violência.
Para celebrar o lançamento do projeto, nesta terça-feira, os refugiados tiveram um dia de craques no Maracanã. Ganharam uniforme, puderam se trocar no vestiário oficial dos jogadores, entraram em campo enfileirados e ainda deram entrevistas para um mar de jornalistas à beira do gramado. De quebra, foram convidados pelo presidente do Maracanã, Sinval Andrade, para assistir de camarote à partida entre Flamengo e Vasco, pela Copa do Brasil.
As duas partidas inaugurais do “Futebol das Nações” – que terá atividades até o final do ano –foram disputadas atrás de um dos gols e utilizaram a metodologia do Futebol3, desenvolvida pela ONG streetfootballworld Brasil. No Futebol3, as regras são construídas coletivamente antes de a bola rolar. Em seguida, ocorre a disputa em si e, em um terceiro momento, os jogadores se reúnem novamente para debater o que aconteceu em campo. É nessa discussão que se trabalham as diferenças, expectativas e sentimentos dos participantes. No Futebol3, os gols valem tanto quanto o respeito às regras determinadas, o fair play e o espírito de grupo.
O lançamento foi prestigiado pelo Representante do ACNUR no Brasil, Andrés Ramirez, e pela consultora sênior da ONU Mulheres Brasil, Júnia Puglia. Durante os jogos, os refugiados trabalharão com os temas da campanha “O Valente não é Violento”, que visa a conscientizar homens e meninos para o tema da violência contra as mulheres e meninas, alertando para a importância da desconstrução dos estereótipos de gênero.
Em seu discurso, Ramirez elogiou a iniciativa da ONU Mulheres em promover o debate da violência com os refugiados. “A aproximação da campanha O Valente não é Violento das atividades com refugiados no Maracanã é muito oportuna, pois os refugiados são a prova de que valentia não é sinônimo de violência. Eles passaram por situações difíceis e as enfrentaram com coragem para escapar da violência”, disse o Representante do ACNUR.
Cercados pelas míticas arquibancadas do Maracanã, refugiados da República Democrática do Congo, Síria, Colômbia, Togo, Nigéria e Guiné correram, driblaram, marcaram gols e comemoraram com danças divertidas, inspiradas em seus países de origem. Ao final, debateram sobre preconceito, inclusão e diferenças culturais.
No templo do futebol brasileiro, cabiam todas as religiões em harmonia. O sírio Abdulrahman Hajjar, único muçulmano do grupo, se sentia mais acolhido pelos outros refugiados. “Gosto de jogar com eles. Esta é uma chance única. Desde que a guerra na Síria começou, não há mais futebol. É melhor jogar bola aqui do que lutar uma guerra lá”, afirmou.
Uma das idealizadoras do projeto, a psicóloga Gabriela Azevedo, do setor de Responsabilidade Social/ Sustentabilidade do Maracanã, sonhava em trabalhar com refugiados desde os 14 anos. “Pensamos neste projeto em conjunto com a Cáritas RJ não só como uma forma de aproximar o Maracanã do seu entorno, já que eles são nossos vizinhos, mas também de utilizar o estádio para acolher pessoas que passaram por diversas violações de direitos até chegarem ao Brasil. Vê-los aqui todas as semanas é uma alegria. Aos poucos os sorrisos vão ficando mais constantes e deixando as cicatrizes, pelo menos por algumas horas, um pouco mais toleráveis.”
Sorrisos eram, de fato, o que mais se via no rosto do congolês Achille Landa. “Estou muito feliz de poder jogar no Maracanã. É um momento inesquecível para mim. Fiquei emocionado como se fosse um jogo de verdade. Nós, refugiados, chegamos com o moral baixo. Esta é uma oportunidade para relaxarmos e esquecermos os nossos problemas.”
Antes de voltar para o vestiário, Achille soltou a voz, entoando uma música “que os congoleses cantam quando estão contentes”. Em seguida, virou-se para Gabriela e agradeceu: “Nunca vou esquecer o que aconteceu aqui hoje.”
Por Diogo Félix, do Rio de Janeiro.
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