Estrangeiros buscam no refúgio ao Brasil um caminho para escapar da violência
(Adital, 03/09/2014) O adolescente Abdoulaye Kaba, de 16 anos, chegou sozinho de Guiné-Bissau, no oeste da África, ao Brasil, em 2012, quando ainda tinha apenas 14 anos de idade. Ele e sua família sofriam perseguições políticas após a prisão de seu pai. Como era o primogênito, as pressões sobre ele ficaram maiores e, com a ajuda de um amigo da família, resolveu deixar seu país. Seu pedido de asilo foi homologado em agosto deste ano pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), do Ministério da Justiça brasileiro, e Abdoulaye passou a ser, oficialmente, um refugiado no Brasil. Assim como ele, outros jovens e adultos encontram no refúgio internacional o caminho para lidar com conflitos.
“Optei pelo Brasil porque aqui é o país do futebol. Em Guiné, eu já jogava bola e participava de campeonatos desde os sete anos de idade. Como fui forçado a deixar meu país, quis vir para um lugar que tivesse a ver com essa minha paixão pelo esporte”, explica Abdoulaye, em depoimento à Agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Refugiados (Acnur).
Instalado no Rio de Janeiro, a mais de 5 mil quilômetros de sua terra natal, Abdoulaye voltou a estudar e a praticar o esporte. Ele treina no projeto social Karanba (localizado em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio), que é coordenado pelo ex-jogador norueguês Tommy Nielsen. “A parte mais difícil de ser um refugiado é ficar longe dos meus pais e meus irmãos. Fora isso, a vida no Brasil é muito boa”, avalia.
O caso se iniciou em 2005, ano de eleição presidencial no Togo, quando a associação política a qual Koffi integrava publicou um relatório que apontava fraudes no processo eleitoral. Ele acabou perseguido e preso por agentes do governo e, após ser libertado, viveu um ano em campo de refugiados em Benim, que faz fronteira com o Togo, para depois se mudar para o Senegal. Lá, Koffi reconstruiu sua vida, encontrou trabalho e ficou noivo, mas foi obrigado a se deslocar novamente quando voltou a ser ameaçado por questões políticas no Togo.Vivendo na mesma cidade há sete meses, o togolês Koffi Mawunam Donaldo-Prosper Anthony tem 37 anos, larga formação acadêmica e currículo invejável. Promotor artístico, formado no Togo, país situado ao oeste do continente africano, ele estava terminando um curso na área de marketing e comunicação no Senegal, mas precisou deixar tudo para trás e pedir refúgio no Brasil após sofrer perseguições políticas em seu país.
No Brasil desde novembro de 2013, Koffi agora tenta recomeçar uma vez mais. Seu desejo é voltar a trabalhar com eventos e comunicação, apesar das dificuldades em conseguir emprego nessa área no Brasil.
Assim como ele, o ganês Abubakari [a Acnur não forneceu sobrenome] enfrentou dificuldades para se inserir no mercado de trabalho e abrir seu próprio negócio, precisando, antes, trabalhar na construção civil e ministrar aulas particulares de inglês para se sustentar. Hoje, com 29 anos e refugiado de Gana, na África ocidental, Abubakari possui uma loja de equipamentos para celulares e tablets na capital do país, Brasília, mas ainda aguarda decisão para seu pedido de refúgio no Brasil.
Amparo a refugiados e outras vulnerabilidades Tendo desembarcado no país em fevereiro de 2014, o ganês pretende construir sua vida pessoal e profissional no continente sul-americano. Atualmente, Abubakari frequenta aulas de português na Universidade de Brasília (UnB) e tem pretensões de ingressar num curso superior de Direito. “O Brasil é a minha casa. É aqui que quero construir o meu futuro”, revelou à ACNUR.
As histórias de Abdoulaye, Koffi e Abubakari fazem parte do trabalho da Acnur, que dirige e coordena a ação internacional para proteger e ajudar pessoas deslocadas de seu país de origem em todo o mundo, buscando soluções duradouras para seus casos. Atualmente, a Agência conta com equipe de aproximadamente 6,3 mil pessoas em mais de 110 países, e intervém no caso de cerca de 32,9 milhões de pessoas com necessidade de proteção.
A ACNUR atende não apenas a refugiados que fogem de conflitos e da violência, mas a pessoas submetidas a vários tipos de vulnerabilidades, como deslocados internos (pessoas deslocadas dentro de seu próprio país), indivíduos apátridas (não considerados como um nacional por nenhum Estado), retornados (que retornam ao seu país de origem de forma voluntária), além de migrantes e requerentes de asilo.
Para conhecer mais o trabalho de amparo a refugiados, acesse: www.acnur.org
Por Marcela Belchior
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