Protagonismo migrante marca 1º Festival do Dia Internacional do Refugiado
Evento foi promovido pela Frente Independente de Refugiados e Migrantes, que busca fortalecer coletivos e movimentos de imigrantes e refugiados em São Paulo
No Dia Internacional do Refugiado, refugiados e imigrantes querem transmitir uma mensagem que foge do retrato de pessoas dependentes do governo ou instituições. Querem se representar politicamente e partilhar sua cultura com os brasileiros. Essa mensagem marcou o 1º Festival do Dia Internacional do Refugiado, primeira grande ação da Frente Independente de Refugiados e Migrantes (FIRI), que reuniu neste domingo refugiados, migrantes e brasileiros no centro de São Paulo.
A FIRI busca o fortalecimento das pautas políticas e do diálogo aberto dos coletivos e movimentos sociais dos imigrantes e refugiados de São Paulo, articulando objetivos e lutas. A Frente é integrada pelo GRIST – Grupo de Refugiados e Imigrantes Sem Teto, do MOP@t – Movimento Palestina Para Tod@s, da Equipe de Base Warmis – Convergência de Culturas e do Visto Permanente – Acervo Vivo das Novas Culturas Imigrantes.
Jovens, crianças e adultos que participaram do Festival puderam ouvir a música do Haiti, Congo, Angola, Colômbia, Guiné-Conacri e Brasil, além de saborear pratos típicos do Congo e da Síria e apreciar a moda africana. O evento foi feito de forma autônoma pela FIRI. A Secretaria de Direitos Humanos da prefeitura de São Paulo cedeu banheiros químicos e isenção de taxas para os organizadores.
Pitchou Luambo, refugiado da República Democrática do Congo (RDC) e coordenador do GRIST, afirma que o intuito da ação é justamente mostrar como é possível unir refugiados e brasileiros para festejar, sem vitimizar as pessoas que solicitam refúgio no país. “Tratar o refugiado como vítima prejudica, porque parece que não somos capazes de nos representar. Criamos nosso movimento para poder mostrar que o refugiado pode falar por ele próprio e ser protagonista da própria história. Não queremos competir com as ONGs, que fazem um trabalho muito importante para as pessoas que chegam, mas promover a participação efetiva de imigrantes e refugiados”.
O GRIST tem desenvolvido diversas ações culturais para mostrar a cultura dos refugiados e sensibilizar brasileiros para a questão do refúgio. “As pessoas passam a entender quem é o refugiado, a bagagem que ele tem, que vem para tentar contribuir com a sociedade”.
Da mesma forma, também atua o MOPAT. Hasan Zarif, filho de palestinos, integra o movimento e tem levado o debate político sobre questões nacionais e internacionais para as noites do bar restaurante Al Janiah, do qual é proprietário. Para ele, a principal luta é garantir direitos políticos plenos para refugiados e imigrantes. “A Frente surge da necessidade dos refugiados serem portadores da própria causa, falando por eles mesmos e não apenas por representação. Aqui no Brasil eles acabam não tendo voz, sendo representados pelas ONGs e governos. Esse é um momento de organização entre refugiados e migrantes árabes, africanos e latinos, para que dentro dessa Frente possamos nos formar sobre a situação política do outro”.
Cristina de Branco, migrante de Lisboa e integrante do Visto Permanente, coletivo que pensa migração por meio do audiovisual, defende novas formas de representação sobre a questão migratória, que mostrem a parte positiva, construtiva, artística e cultural dos migrantes, deixadas de fora na cobertura de grandes veículos. “Achamos por bem criar outro espaço midiático, prioritariamente audiovisual, para dialogar sobre as comunidades migrantes de forma geral. Se a grande mídia se recusa a dizer que isso (o Festival) está acontecendo, nós vamos criar um canal para mostrar”.
Nesse sentido, Cristina reforça que a FIRI foi criada para fortalecer as ações dos coletivos num discurso de união entre aqueles que se deslocam. “A Frente não representa uma totalidade, mas uma diversidade. Cada um se representa autonomamente e a Frente serve para potencializar essa união dos movimentos”.
O apoio e prestígio ao evento também chega de fora do Brasil. Mesmo estando em viagem à Bolívia, a militante boliviana Jobana Moya, integrante da Equipe de Base Warmis, reforçou a necessidade de união e articulação entre migrantes e refugiados.
“Queremos ser vistos como sujeitos políticos, capazes de nos organizar, colocar nossas pautas e posicionamentos. Acreditamos que juntos, sim, somos mais fortes, e que nossa diversidade cultural nos enriquece e fortalece como Frente. Nosso papel é importante para visibilizar a causa de migrantes e refugiados”.
A criação da FIRI conta com o apoio da Campanha Refugee Welcome, criada em 2015 para dar suporte a coletivos de refugiados e imigrantes que querem divulgar sua cultura e mostrar o que é ser refugiado no Brasil, além de sensibilizar a sociedade, por meio da difusão de informação. “Se a sociedade sabe mais sobre quem são os refugiados e de onde vêm, a discriminação diminui”, defende a co-coordenadora da campanha, Suhayla Khalil, que viu com alegria a participação do público no Festival.
No Fórum Social Mundial de Migrações, que será realizado em São Paulo, de 7 a 10 de julho, a FIRI também estará presente, levando as pautas dos refugiados e migrantes.
Por Géssica Brandino
*Matéria atualizada com informações da Prefeitura de São Paulo às 13h20 de 20/6/2016