Cinco anos depois do terremoto em seu País, haitianos fincam raízes em Manaus
(A Crítica, 21/03/2015) Após a tragédia, em 2010, haitianos que vieram para a capital amazonense se estabeleceram na cidade enquanto outros tantos seguiram para as regiões Sul e Sudeste do Brasil
A rota do Amazonas deixou de ser o principal destino de refúgio dos haitianos. Desde 2010, após o terremoto que devastou o país do Caribe , vieram morar no Estado mais de 8,5 mil refugiados. Atualmente, apenas 1,5 mil permaneceram.
A falta de oportunidade de emprego e a baixa remuneração são os principais fatores que levaram os haitianos a escolherem outros lugares pelo País, como São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, segundo informou o padre da Pastoral do Migrante, Gelmino Antônio Costa.
De acordo com o pároco, a vinda dos haitianos caiu este ano, pouco mais de 300 vieram para Manaus. Uma média de 25 haitianos por semana, estão chegando na capital.
A maioria deles trazem famílias inteiras, estão chegando no Acre, para depois seguir para São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. “Hoje, eles chegam pelo Estado do Acre. De lá, saem uma média de três a seis ônibus lotados para São Paulo, levando os haitianos. Os empresários da Região Sul do País agora estão dando essa oportunidade para eles. Como existe a falta de emprego e de bons salários, os haitianos estão nessa nova rota”, afirmou.
Além do Acre, outra rota é a Venezuela, que tem sido uma nova porta de entrada dos refugiados para o Amazonas. Até então, a rota mais comum dos haitianos era pela fronteira com a Colômbia, via Tabatinga (AM), que fica 1.106 quilômetros distante de Manaus, e com o Peru, via Brasiléia (AC).
De empregado a empresário
Apesar da decepção com o mercado de trabalho, os refugiados, que permaneceram na capital, estão dando os primeiros passos para a estabilidade. Esse é o caso do comerciante Simon Sera, 28. Formado em Letras, o haitiano veio para Manaus há dois anos e meio em busca de uma vida melhor.
Depois de dois anos trabalhando como jardineiro e garçom, Simon economizou dinheiro e montou seu próprio negócio. Há um ano, ele abriu um mercadinho no bairro do São Jorge, Zona Oeste, onde consegue sobreviver com sua esposa e filho. “Até agora eu estou bem. Já trabalhei muito para ter o que eu tenho. Não é fácil, mas por enquanto não tenho previsão de sair daqui”, afirmou.
Segundo ele, muitos amigos do Haiti deixaram a cidade por falta de compromisso. “Sobreviver não é fácil, mas acho que muitos desistem por falta de fé e compromisso”, disse emocionado. Simon lembra que tinha uma boa vida no Haiti antes do terremoto.
Três anos de superação
Outro comerciante haitiano que também abriu estabelecimento no bairro São Jorge, Zona Oeste, foi Th Ogires, 36. Casado e com uma filha de quase dois anos, Ogires disse que ainda está buscando estabilidade. “Se eu não gostasse, eu não estava aqui, mas não é fácil. Ainda encontro dificuldades em manter o meu estabelecimento”, afirmou.
Ele contou que chegou na cidade há três anos, trabalhou como auxiliar de manutenção e garçom e, logo depois, resolveu – com a ajuda da família no Haiti – montar um comércio na capital.
Os momentos delicados na vida do haitiano não pararam por aí. Muito tímido, Th Ogires disse que passou por problemas de saúde quando chegou em Manaus. “Quando cheguei aqui ainda passei por duas cirurgias de hérnia de disco e graças a Deus recebi ajuda dos padres e hoje estou tentando sobreviver no comércio”, afirmou.
Principal destino
Após o terremoto de 2010, que desencadeou uma grande onda de emigração no Haiti, o Brasil passou a ser um dos destinos preferenciais dos migrantes. Na capital do Amazonas, em 2010 chegaram 300 haitianos; em 2011: 3 mil; em 2012: 2,2 mil; em 2013: 1,8 mil; em 2014: 1,8 mil e, em 2015, pouco mais de 300 nativos.
Audrey Bezerra
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