O que aprendi com os refugiados

Por Géssica Brandino

Hoje, 20 de junho, é o Dia Internacional do Refugiado. Dia em que são divulgadas novas estatísticas sobre o deslocamento forçado no mundo e também sobre aqueles que chegam ao Brasil. Decidi não falar sobre números, mas sobre as histórias por trás deles. Ou melhor, sobre aquilo que elas seguem me ensinando.

Refugiados: eu me importo - campanha de conscientização do GRIST - Grupo de Refugiados e Imigrantes sem Teto (Foto: Géssica Brandino)
Refugiados: eu me importo – campanha de conscientização do GRIST – Grupo de Refugiados e Imigrantes sem Teto (Foto: Géssica Brandino)

Era 2013 quando parei pela primeira vez para entrevistar alguém que estava no Brasil nessa condição. De lá pra cá, tantas histórias vieram, tantos rostos de pessoas que passei a admirar. Sim, são pessoas corajosas e que nunca imaginaram viver em tal condição. Aqui, pausa para o primeiro aprendizado: refugiado é um status. A pessoa que o carrega é muito mais do que isso. E falar sobre essa realidade não é simples. Dói, porque faz lembrar do que se quer esquecer, porque remonta aos piores instantes da vida. Ninguém quer ter a própria história resumida a sofrimento.

Crianças do coral Coração Jolie, da ONG IKMR - Eu conheço meus direitos (Foto: Géssica Brandino)
Crianças do coral Coração Jolie, da ONG IKMR – Eu conheço meus direitos (Foto: Géssica Brandino)

Os refugiados ensinam outro olhar sobre o mundo, sobre a vida, sobre a cultura. Ao escutar a história de alguém que teve que fugir desesperadamente do próprio país, tive consciência do quão precioso é viver em paz. Ao escutar a dor de quem teve a vida ameaçada, passei a valorizar cada segundo. Passei a admirar aquelas pessoas que conseguiram buscar um recomeço. Ao ver como compartilham sua música, idioma, poesia e culinária para criar pontes, percebi que existe muito em comum entre nós.

Sarau dos refugiados promovido pelo Sesc promove troca cultural com brasileiros (Foto: Géssica Brandino)

Essa data, assim como tantas outras, é um convite à reflexão sobre o que ainda precisa ser feito para que cada uma dessas pessoas seja tratada de forma digna, pois os refugiados também escancaram as deficiências do Estado, em suas várias instâncias. Como é viver sem documento, sem casa e trabalho num país desconhecido, com uma língua estranha. Como é chegar e se deparar com um muro. Como é tentar chegar e se deparar com um oceano. Como é querer sair e se deparar com a fronteira. Como é querer ficar, e não ter direito à própria terra.

Caros refugiados, obrigada por tudo que me ensinaram e ensinam. Espero de alguma forma contribuir para que o refúgio que buscam possa realmente ser encontrado.

Inauguração do restaurante Talal Culinária Síria (Foto: Géssica Brandino)

Serviço
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