Refugiados lançam campanha e convidam brasileiros a vestir a causa
Com o intuito de sensibilizar brasileiros e aproximá-los das pessoas que se refugiam no país, o Grupo de Refugiados e Imigrantes Sem Teto de São Paulo (GRIST) lançou neste domingo (20/09) a campanha “Refugiados Eu Me Importo”. A frase foi estampada em camisetas que serão vendidas e entregues pelos próprios refugiados. Cada entrega será registrada numa foto, que irá compor um painel dos apoiadores da causa. A ação termina dia 20 de novembro. (Veja ao final da matéria como apoiar a campanha)
O lançamento da campanha foi feito durante o evento “Cultura e refúgio: diálogo com as Áfricas”, no espaço cultural Casa da Fazenda, na Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo. O refugiado Pitchou Luambo, um dos criadores do GRIST, explica que a ideia das camisetas é sair das redes sociais, onde as pessoas dialogam apenas entre amigos, e atingir pessoas desconhecidas, na volta do trabalho, dentro do transporte e em tantos outros espaços.
“Estava vindo para cá e um cara no metrô me parou, disse que gostou da minha camiseta e perguntou de onde eu era. A camiseta sensibiliza mais do que uma ação nas redes sociais, porque ao vestir você atinge as pessoas até mesmo sem saber. A nossa ideia é aproximar, por isso que o refugiado que entregará a camiseta e faremos uma foto para compor o nosso álbum”, conta Pitchou.
Cada camiseta será vendida por 20 reais e o dinheiro arrecadado será usado para produzir mais camisetas e ampliar as ações do GRIST. O coletivo surgiu há pouco mais de um ano na cidade de São Paulo, com o intuito de conscientizar imigrantes e refugiados sobre direitos, e integra o Movimento Sem Teto do Centro (MSTC).
O evento promovido na Cidade Tiradentes foi a quarta atividade organizada pelo coletivo, que busca levar a cultura dos refugiados para os brasileiros e assim tentar acabar com a discriminação que enfrentam diariamente. “Percebemos que o preconceito surge diante do desconhecimento sobre quem são os refugiados. Nesses eventos apresentamos a comida, roupa e música dos países de origem dos refugiados, além de promover o debate sobre cultura. Estamos aqui para mostrar o que temos de melhor”, explica Pitchou.
Em cada sala do espaço cultural foi possível ver de perto o que o congolês dizia. As batas, camisas, vestidos, saias e bolsas com estampas africanas foram feitas por Roberto, solicitante de refúgio vindo de Benim, país da região ocidental da África, e que está há seis meses em São Paulo. No mesmo espaço estava Ali Arloude, haitiana que vive no Brasil há um ano e ajudou a fazer as comidas da terra natal, salada apimentada e arroz com feijão, alimentos conhecidos pelos brasileiros, mas preparados de modo diferente, assim como a couve, preparada com outros ingredientes, como carne e tomate, a banana da terra e o fufu, feito com farinha de milho ou mandioca para substituir o arroz.
A cada evento, Ali Arloude tem a chance de rever os sabores do Haiti. Sente falta da culinária, mas principalmente do filho de 2 anos e seis meses, que ficou no país. Para providenciar os documentos, ela, que era costureira, trabalha diariamente no comércio da Rua 25 de Março.
Na roda de conversa com refugiados, a saudade e as dificuldades foram compartilhadas com os participantes brasileiros. A tradição da República Democrática do Congo e do Haiti, o racismo que afeta brasileiros e imigrantes, as diferenças na culinária e os múltiplos preconceitos que dificultam o processo de reintegração no país vieram à tona, assim como a mensagem que queriam transmitir.
“Não trouxemos o mau. Trouxemos a nossa cultura”, afirmou o refugiado Guilé, da República Democrática do Congo, que vive em São Paulo há um ano e sete meses. Nesse período percebeu as diferença entre as culturas e principalmente o desconhecimento que ainda cerca a questão do refúgio. “Refugiado não é um bandido ou criminoso. É uma pessoa que fugiu para salvar a própria vida”, ressaltou.
A haitiana Jenaveve chegou há dois meses em São Paulo e fez questão de destacar: “Estamos aqui para um abraço. Para mostrar o que podemos fazer juntos e melhor. Estamos lutando para viver bem, como todas as pessoas”.
Pitchou conta que os eventos promovidos pelo GRIST têm tido uma boa aceitação dos brasileiros. Na Cidade Tiradentes não foi diferente. Da plateia vieram frases de apoio e também de acolhida. “Aqui vocês não são estrangeiros, porque nossa cultura veio de vocês. Nosso país foi construído por vocês”, disse um senhor negro que participava do debate. Era a aproximação que o GRIST buscava e é ela que segue a promover, em busca da reintegração dos refugiados que estão no Brasil e daqueles que chegam a cada dia.
Campanha “Refugiado Eu Me Importo”
Solicite a camiseta da campanha por e-mail ou telefone:
grist.brasil@gmail.com
(11)97155-2912
Preço da camiseta: R$20 reais
Por Géssica Brandino
Site Caminhos do Refúgio